Description
Seriam os poemas flores? Atrás dessa imagem, que remete o fazer poético a um jardim perfumado, pode-se pensar também em flores de cemitério, flores radioativas como a rosa de Hiroshima, flores pervertidas como as nuanças do sexo humano, tão mais complexo que o dos vegetais, e não esqueçamos que as flores são os órgãos destes. Não é raro poetas nomearem suas coletâneas, seus jardins pessoais, com referências a flor. Machado de Assis, a quem acusam não ter sido um poeta à altura do prosador que foi, compôs um livro com o simpático nome de Phalenas – lembremos que o nome dessa espécie de orquídea remete a falo. Baudelaire reuniu sua Flores do Mal na coletânea que inaugura o Modernismo e escancara que não é por ser flor que tem que ser fofo. Os sonetistas d’antanho denominavam “coroa” a reunião de sonetos encadeados que narravam algum feito. Enfim, faz todo o sentido se florarem as coletâneas de poema, bouquet, coroa, corbeille, ramalhete ou grinalda.