Fabio Santiago: Há uma luz dourada no fim do túnel

Quando acordou, não deu conta, no trabalho, passou o dedo polegar na base do anelar e percebeu que algo estava estranho.

Neste momento o seu dia parecia desmoronar.

Perdeu a aliança, e agora, o que fazer?

Procurou nos carros em que esteve, inclusive no seu.

Averiguou banheiros, bolsos, calçadas, chuveiros, pias.

Não existe mais, sumiu.

Ela que foi abençoada e consagrada na igreja, no dia de seu casamento, ela que esteve em seu dedo alongado por todos estes anos, partiu.

Dourada, gravada o nome dos pombinhos, que seguem em frente neste relacionamento, que vem de antes da cerimônia.

Quantos anos fazia, nem lembrava, são muitos e felizes, apesar de alguns deslizes seus.

O desespero começou a bater.

Dia tenso em que as buscas não cessavam, pensava, tentava lembrar por onde andou.

Buscou ajuda com os colegas, algumas moças diziam – Ela nunca acreditará!

Os amigos, tão perdidos quanto ele, falavam – Fudeu!

Fodeu, não! É pior, fudeu!

Passou o primeiro turno em uma das empresas e após o almoço partiu para a outra.

Agora, a noite chegou, era preciso ir para casa.

Queimava os neurônios em busca de uma explicação para a perda.

No banho, dias atrás, ela quase escorregou do dedo.

Só pode ter caído ali, no chuveiro quente.

Era impossível ter acontecido, não havia tirado para nada.

Ela não acreditará! Ecoava em sua mente.

A esposa pode achar que são pistas falsas para encobrir o descaminho.

Não fiz nada! Não é justo!

Quem acreditaria?

Precisava ligar o carro e seguir rumo a sua casa.

Pensou em tomar umas, pensou em excitantes para aliviar a dor, pensou em não dizer nada, pensou o pior.

No trânsito, seguiu lento, queria apenas que o tempo não passasse.

De frente ao portão, o farol banhava o lar.

Ela está de pijama, seu rosto é gentil e doce, tomou banho há pouco.

Caminhou até a companheira e lhe tascou um beijo, logo após, foi para o chuveiro.

– Está tudo bem contigo?

– Não muito.

– O que aconteceu?

Um tanto nervoso, contou sobre a saga, o roteiro que traçou em busca da aliança.

-Lembra que dias atrás já me queixava por ela estar frouxa no dedo?

Decidem fazer um pente fino na residência, em busca do anel.

Quando amanhece, vasculham a garagem e o quintal, nada da pequena dourada.

– Vamos comprar outra na mesma joalheria, depois levamos para benzer na igreja em que casamos.

Sorriu nervoso e aliviado, correu até a loja e dias depois foram benzê-las.

Poderia ter sido uma tragédia, não foi.

A confiança não havia partido.

Anos depois, mexendo em sua caixa organizadora, encontrou embaixo de um monte de cadernos e revistas a aliança fujona. Estava lá, uma luz dourada no fim do túnel.

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