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A escritora Fernanda Hamann publica, pela EditoRia – selo editorial da Ria Livraria -, o livro Estilhaços de Junho. Em onze contos, a autora aborda uma fase na História do Brasil entre junho de 2013, com as manifestações que começaram por causa do aumento do preço da passagem de ônibus em São Paulo, ampliando para o resto do país, até o recente 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e vandalizadas por eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Hamann destaca esse recorte histórico como “um período incendiário. Um incêndio que talvez não tenha terminado. Continua a fazer fumaça”.
Com títulos que remetem a datas e acontecimentos marcantes, os contos assumem focos narrativos e linguagens diversificadas, como a multiplicidade caótica das pautas defendidas em Junho. Alternam-se as perspectivas de diferentes personagens, que tiveram as vidas aquecidas por uma década em brasa. Hamann evidencia agentes sociais participantes, direta ou indiretamente, desse momento, como a empregada doméstica, a madame, o policial militar, o jornalista, pastor evangélico, o black bloc. “Um povo estilhaçado pela dificuldade de articulação coletiva e institucional, no paradoxo da era das redes sociais”, explicou a contista. “Por um lado, as redes unificaram os sentimentos de insatisfação popular, em atos simultâneos por todo o país. Por outro, elas fomentaram, como experiência subjetiva, um ímpeto de cidadania individual, narcisista, em que há poucas barreiras ao exibicionismo e ao ódio dirigido ao Outro. Cada um com seu cartaz. Cada um com sua revolta”, apontou.
Estilhaços de Junho beira a realidade com a possibilidade de uma autoficção nacional. “Quer também provocar o leitor a pensar em grandes desafios globais, num mundo em que a democracia, esse sistema que depende da capacidade humana de convivência com a diferença e o contraditório, tem sido ameaçada pela disseminação de discursos violentos e totalitários”, finalizou Hamann.
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Uma obra envolvente que nos entrega novas lentes para desvelar as linguagens, os relâmpagos e os traumas de um passado coletivo que, sustentando nosso caos civilizatório presente, ainda está muito longe de cessar de acontecer. Uma obra e uma autora que merecem toda nossa atenção.
– Paulo Scott
Um livro imprescindível, que retrata momentos importantes do nosso país e nos mostra como chegamos até aqui
– Morgana Kretzmann
Conheço faz tempo esta grande escritora. E desde sempre eu celebro o humor que ela tem. A linguagem original e afiada. Que corre solta pelas páginas. Feito o riso frouxo quando a leio. Mesmo com a minha alma, assim, estilhaçada. Ave nossa! É preciso ficar atentos e atentas. Com o nosso povo, com a nossa pátria. E com o talento que Fernanda Hamann tem para abrir os nossos olhos. A literatura brasileira, pelo menos ela, se depender dela, estará salva.
– Marcelino Freire