Fabio Santiago: Quanto Vale?

Estávamos tão felizes!

Quanto Vale? Pergunto sem pestanejar, me diz quanto vale?

Olho pelo retrovisor do veículo e avisto um caminhão em disparada, assustado falo para a minha esposa que está ao meu lado – Não vai parar, não vai frear, não vai parar!

Ela abaixa o quebra sol, abre o espelho.

A carreta arrebenta o carro que está a sua frente, fazendo com que este, venha a colidir na traseira do nosso automóvel.

Ambos sinalizávamos com o pisca alerta. A imensa fila demonstrava o que depois descobrimos, haviam dois acidentes na BR. Com o nosso, o número subiu para três.

Pergunto para a companheira se ela está bem, em seguida saio do carro para ver a situação.

Um homem de boné confere o estrago na lataria do caminhão, a família do outro carro consola o menino de uns nove anos e a filha de doze ou treze.

Pessoas de outros veículos descem para ver este cenário de escombros, caminhoneiros também circulam por ali, parecem preocupados.

Começo a filmar e fotografar os carros e o caminhão. O motorista do outro automóvel atingido, faz o mesmo, o dele deu perda total.

Veículos que trafegam na mão contrária, filmam o acidente.

Quanto vale? Me diz, grita daí. Quanto vale?

Quem é o motorista do caminhão? Pergunto. Uma pessoa que nem lembro o rosto, mostra o moço

 – É o rapaz sentado no asfalto.

Vou em sua direção – Você está bem? Se machucou? Sua empresa tem seguro?

Ele me passa o número do patrão. O dono da transportadora nos envia o documento do caminhão e a carteira do motorista, pelo whats.

Estávamos tão felizes, a vida é frágil demais. Somos suscetíveis ao acaso.

Talvez a morte seja o vazio que sentimos ao ouvir a pancada do caminhão no outro veículo, que impulsionado bateu e arrastou o nosso. Talvez a morte seja este vazio, o da incapacidade.

Quanto vale? Vá, me diga. Quanto vale?

Depois de horas parados ali, a vida se impôs, neste dia, vencemos a irremediável.

A transportadora não irá pagar a franquia do meu seguro, é o que diz o dono da empresa, no dia seguinte. Mesmo culpado, nega as responsabilidades.

A carreta em alta velocidade atinge dois carros, seis pessoas poderiam ter suas vidas ceifadas, mas a empresa não se importa com gente, apenas com a sua frota e os seus gastos.

Quanto vale? Diga, pode ser baixinho. Quanto vale?

Ao chegar em casa uma música toca em minha mente e Otto canta, “Distraída pra morte/Eu estava sim…”

Abracei a minha esposa e celebramos a vida. Não apenas a nossa, também daquela família.

O veloz motorista estava vivo. O seu trabalho é levar cargas, andar rápido, cumprir metas, gerar lucros.

Quanto vale a vida? Vamos, me responda logo! Quanto vale a vida?

Posso ouvir meu querido amigo, o guardador de memórias, na noite passada ao acidente, em um bar, me dizendo sorrindo – Vale quanto?  Vale quanto? Vale quantos Whiskys?

Estávamos tão felizes.

Nesta hora sorrio para ela, estamos vivos e bem, apesar de tudo.

Quanto vale? Diga aí?

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