Fabio Santiago: Estamos conversados


Tenho dito e reafirmo, arte é um passeio pelo impossível.

A poesia é lambuzar-se deste impossível.

Digo isso em dó maior, dor menor, sem estribilho.

Vivo desta vitamina supersônica, canto meus versos no delirismo, neste brilho.

Se você não leu, beba essa crônica e estamos conversados.

É na insônia onde tudo acontece.

Neste teatro de papel, musas efêmeras alimentam o frenesi pulsante.

Quem não transa não sabe de nada, nesse bole-bole seguimos adiante até o arrebol luzeiro.

Pintei delírios a vertiginar labirintos, desvirginar poemas.

No absinto de cada dia, fadas verdes ventam asas.

Neste sonho de escritor inquieto, vidrado lacrimejo poentes, descubro paisagens.

Você me pergunta aonde eu quero chegar com tudo isso e eu respondo, até o ponto final.

Ainda temos vida, os batimentos saúdam, o texto escorre feito chuva torrencial e pulsa o frenesi.

Saiba que nesta crônica estou a bradar o meu transe transa transatlântico transcendental, que certamente não lhe diz nada. Mesmo assim seguro a mão da frase e desço ladeira abaixo.

Veja a tela que estou a pintar, quantas palavras movediças.

Encoste a cabeça na tela, sinta os pinceis, eles bailam feito vaga-lumes e vertigens.

Sobreviva a isto, criatura, tranque a respiração e prossiga!

No emaranhado de teia não há mais saída, já é tarde demais para você que chegou até aqui.

A festa em que não fui convidado ardia em candelabros, enquanto a vela acesa no meu quarto era balé de chama a queimar minha sina.

Mon Amour passeia pelo labirinto cor de cimento. O umbigo dela é pura poesia, lindeza total!

A cada passo uma cilada.

O tamanduá rupestre com a sua língua babosa sugou intramuros e esta crônica.

Se você não se importa, dou de ombros, na contramão estaciono o meu pulsar flamejante de infinitas serpentinas e confetes. Espirro aromas e desmaios por toda tarde.

Flutuo, flutue, flutuemos.

Repare, estamos conversados, quem não se ligou, vide verso.

Adeus, indo.

Comentário de 1

  1. Muito bom. Sempre há um final surpreendente nas crônicas de Fabio Santiago.

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