Fabio Santiago: Diga que não

Há quem goste de imaginar, inventar, ficcionar, independente da profissão.

Tentarei me ater as situações do acaso.

Não vou falar de calúnia e difamação, quando alguém acha que aquele ou aquela são ou fazem alguma coisa e criam mentiras de maneira perniciosa.

Quando é ficção ou invenção? Lembro que na infância diziam para mim, você tem uma imaginação fértil.

Repare, um vizinho me encontra indo ao trabalho, conta que os barulhos que ouvimos no terreno localizado no final da quadra, é parte da construção de um galpão para esconder possíveis criminosos, que agirão no bairro.

Claro que há um medo generalizado, não queremos ser vítimas de criminosos, muito menos sofrer fatalidades.

Este desconhecido permanece somente na imaginação, mesmo quando tudo indica ser uma invenção.

Outro morador me diz que o galpão é para a construção de mais um prédio que avança pelo bairro.

Estão cortando as árvores! Essa versão me pareceu possível e causou-me indignação.

Neste terreno de arvoredos, os jacus, saguis, saracuras, tucanos e outros espécimes aparecem e somem, são sempre bem-vindos pela vizinhança.

Também chega-me esta história, um pai está construindo uma casinha de bonecas em uma árvore para a sua filha.

Tudo isso poderia ter permanecido assim singelo, se não houvesse o outro dia.

Novamente, repare, o fato é que construirão um muro para cercar o terreno. Foi o que me disseram os funcionários da empresa responsável pela obra.

Fomos levados a diversos caminhos, até o possível surgimento de uma rua devastando a mata para os afortunados vizinhos poderem se locomover mais rápido de suas mansões.

Tem mais, sempre terá mais.

Aquela casa tem jeito de criminosa, a partir dela cavarão um túnel que atravessará duas quadras até o banco que fica na esquina da rua principal. Será um grande roubo, igual aquele que até virou filme. Imagino a cara de cada um deles, patifes!

A casa está vazia, abandonada! Digo sem titubear.

Você verá, é o que responde o desconfiado rapaz.

No filme, Rashomon de Akira Kurosawa, nos deparamos com quatro versões contraditórias sobre um crime. Com quem mora a verdade, a realidade?

Aproveito para pontuar que para mim, as mais belas cenas de tempestade do cinema, estão em Rashomon.

Repare onde me enfiou essa meada.

Ao escrever esta crônica começo a dar conta que podem achar que estou enviando recados, falando de forma indireta, com ironia, para atingir algum leitor ou desafeto.

Caso você ache que estou falando de você, saiba que, agora pouco, avistei o seu carro passando pela minha rua, lhe vejo nas sombras. 

Estou correndo riscos ou é a crônica quem está?

Saiba que a partir de amanhã estarei em fuga.

Acho melhor apagar tudo isso. Seremos dois fugitivos, a crônica e eu.

Tranco as portas com cadeiras, correias e armários.

Não há paranoia aqui, recebi mensagens estranhas no celular, ouvi passos em minha direção quando subia as escadas do prédio.

Prédio? Não era casa?  Repare, nesta passagem de tempo, posso ter mudado de moradia.

Aos amigos aviso que mudarei o número, fecharei as redes sociais e não terão mais notícias minhas.

Perigoso, igual a viver, não é Rosa?

A crônica e eu estamos de partida.

Se perguntarem de mim, diga que fui por aí.

Quanto a crônica, diga que não leu!

Ela jamais existiu!

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