Fabio Santiago: ‘Delirismo Mon Amour’

Amanhecemos mais uma vez em São Paulo, caminhamos de mãos dadas da Consolação até a Paulista.

A primeira vez que te vi, foi em 1998, Pinheiros era o paradeiro e você a imensidão.

Seu rosto de ventarola, molhada de chuva, é festa!

Insone cidade de sardas, traz consigo a moça das ânforas, com seu umbigo beligerante

psicotropical. Um jeito Nouvelle Vague, Jean Seberg, Anna Karina.

Pontes, viadutos, elevados, metrôs, engolidos pela velocidade.

São São Paulo, Tom Zé!  São São Paulo.

Abre-caminho, concreto, cidade, city, cité. Augusto de Campos.

Seu nome, amiúde, repito. Marco cadência, crio ritmo.

Há sempre uma febre a inquietar, fazer seguir adiante, enveredar por estradas, sarapintar

serras, sacudir as cidades, rasgar nuvens.

Um gole na Rua Marinho Falcão, 58.

Outro gole na Rua Francisca Miquelina, 155.

Andarilhagem desvairada!

Delirismo Mon Amour.

Retornamos a cidade, do Mercadão ao Bom Retiro, Masp, Instituto Moreira Salles e a tempestade para lavar a alma.

Imensa Paulista, Consolação acolhida.

Construção imagética, densidade existencial, largo do tempo.

Roer a carne da palavra, acomodar o pensamento.

Meu estado febril é minha tábua de salvação.

Artaud está sentado. Parte do seu rosto está descoberto.

– Deixe correr livre o delírio!

É o que me diz aos brados.

Percebo nele a inadequação.

No frenesi da palavra, andarilhagem desvairada!

Delirismo Mon Amour.

Sigo nesta espiral, a cada passo ouço vozes que circundam a minha geografia.

Urram, ruídos Minotauros!

A sombra andarilha anda em círculos e nós anoitecemos em São Paulo.

Comentários de 11

  1. Bravo .Perfeito como sempre
    És grande

    1. Obrigado pelo carinho, querida Mary.

  2. Muito bom seu Delirismo, Fábio!

    1. Obrigado, Chris. Um brinde, querida.

    2. Gostei, me sentir na capita São Paulo.

      1. Obrigado, Sebastião. Um brinde querido.

  3. Fabio passeia pela cidade entre goles, suspiros, lembranças e visões líricas e transformadoras do dia a dia, na noite embriagada de eternidade nos versos delirantes dos poetas que não a deixam dormir.

    1. Mestre, Bernardo Vilhena. Alegria imensa ser lido por você, poeta e compositor que me inspira e que acompanho desde da juventude. Baita honra. Um brinde amigo.

  4. Como é bom ler a poesia que sinto no viver Sampa. Evoé

    1. Querida Raquel, obrigado pela leitura. Um brinde, Evoé!

  5. Obrigado, Sebastião. Um brinde querido.

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