
O passarinho amarelo estava na árvore, pousado em um galho.
Canarinho amarelava a tarde.
Em seu baile de asas, mudava de galho em galho, árvore em árvore.
Olhava fixamente para Angela, que trabalhava no computador.
Este cômodo tem consigo uma pequena biblioteca, recheada de asas, os livros também voam e fazem voar.
Em singelo movimento de rosto, deu conta do pequeno, sem alarmes, passou também a observá-lo discretamente.
Os olhares entrecruzaram na medida em que se aproximava.
Sorria pelo biquinho, sorriso pequeno.
Depois disso, teve a certeza que não estava sonhando.
O tempo bateu asas, o canarinho estava agora colado no vidro, perto de sua cabeça.
Pensou em pegar o celular para registrar em foto, por pouco não me chama, isso poderia espantar o amarelinho. Não queria que pensasse que ela não estava gostando de sua presença.
Foi isso que me contou.
O pássaro em seu baile de asas executou uma manobra arriscada, entrou pelo basculante e pousou no teclado.
Encantada abriu o sorriso e permaneceu estática.
Continuava o pequeno sorrindo pelo biquinho.
Desceu o móvel que abriga o computador e começou a andar pela casa, suas pequenas patinhas tão frágeis tomam para si o espaço.
Estou em meus sonhos e neles não posso assistir a cena.
Quando durmo tenho sonhos tristes.
Vou ficando. Cada vez mais. Ficando. Todos vão. Eu, não. Permaneço parado.
Manuel Bandeira esquenta o corpo em Pasárgada, consigo vê-lo daqui.
O que ficou marcado em meu olhar fatigado foram as terras que inventou.
Emudecer é parte da família. Triste sina. Silenciar. Olhos aflitos tentam falar.
Retorno a companheira e o seu passarinho.
Ele caminha lentamente, observa todos os cantos, a cabeça gira em busca dos detalhes.
Cuidadosamente ela acompanha o seu trajeto, de longe, sem interferir.
A janela aberta, o seu olhar, meio de lado já saindo, indo embora, louco por você… invadiu a cena a música do RPM.
Ainda dormia quando ouvi a sua voz agitada, contou-me sobre o canário e tudo que viveu naquela manhã.
Lá pelas tantas, disse-me que depois do passarinho, apareceu um coelho branco, um filhotinho, que respondia pelo nome de “Pipoca”.
Isso é outra história.
– Cadê o meu pássaro amarelo? Onde foi parar o meu canarinho?
No baile de asas da história, voou.

Comentários de 3
Bravo, FS!
Grande escritor, adoro suas crônicas 👏🏻👏🏻
Querido poeta e escritor, obrigada por fazer mais sonhador e leve meu dia, coma beleza e leveza de seu texto. Parabéns. Beijo