Fabio Santiago: Asas em minha imaginação

Em movimento curvilíneo, cria grandes círculos no ar, parece procurar alguma coisa aqui embaixo.

Deve estar em busca de alimento. Quem sabe avistou um animal morto ou ferido.

Será que procura algo vivo?

O tamanho é considerável com asas estendidas, a envergadura aumenta, amplitude também.

Movimenta-se em voo constante, persigo a sua rota, minha cabeça gira, estou hipnotizado.

Nesta toada circular é onde mora o mistério. O que está querendo?

Quanto mais gira, imagino que a sua força em um rasante pode ser fatal.

O que faria eu, daqui? assistiria o seu despencar caçador ou salvaria o seu almoço?

Perco horas tentando adivinhar qual a espécie da ave, seria um gavião, urubu, corvo, falcão, condor, águia? Quais habitam estas bandas citadinas? Não saberia dizer e muito menos arriscar um palpite.

Talvez seja um abutre, acho bacana esta ave, dificilmente seria.

Possivelmente deva ser uma ave de rapina.

Quanto mais ela navega nos ares, gasto este tempo com as suas evoluções.

Não há sons agudos, cantos,  pios, chios, apenas o seu voo.

Percebo que a pequenina coelha, que responde por “Pipoca”, está solta, caminha pela grama, comendo o que encontra.

Começo a dividir minha atenção entre o pássaro e a distraída herbívora.

Aflição em ver a coelha fazendo a sua refeição, ao mesmo tempo que pode ser a comida do grande pássaro que gira lá em cima.

Volto ao dilema, e se num ímpeto o caçador mergulhar no quintal em busca da pequena orelhuda?

O que eu faria?

Teria, eu, agilidade e força para salvá-la do ataque?

O silêncio guia esta tarde, o roteiro escrito cria asas em minha imaginação.

Logo vem à cabeça a sequência do filme, Os pássaros, de Alfred Hitchcock, quando a personagem de Tippi Hedren é atacada por pássaros, dentro de uma cabine telefônica.

O poema de Quintana, em que o pássaro pousa no livro que lê, resolveu voar sobre o que escrevo.

E se esta ave em mim pousar? Poderia evocar, Poe, “Nunca mais”.

Devaneio sem perder nenhuma delas de vista.  O Pássaro continuará sobrevoando a Pipoca e eu.

Não pousará, nem atacará. Ficará por lá, voando até a crônica acabar, com ela ou comigo.

Comentários de 2

  1. Gran finale!!! Bravo!!!

    1. Salve, mestre Bernardo. Muito obrigado pela leitura. Um brinde.

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