Alguns títulos dizem muito; alguns títulos dizem pouco; alguns títulos não dizem nada. O leitor cujos olhos encontrarem O apetite de Deus inevitavelmente sentirá no céu da boca o interesse de ouvir o que dizem os poemas de um livro que em sua primeira estampa já parece dizer tanto. O ruído não é em vão: o livro de estreia de Henrique Emanuel de Oliveira é um aceno para leitores que, como o próprio autor, existem no apetite da voz.
“Objetos, paisagens, roupas, animais, memórias: para além das vozes humanas, familiares, tudo o que é mencionado aqui tem algo a dizer”, ecoa a poeta e romancista Lilian Sais na orelha. Os poemas do livro operam numa espécie de gosto pela próxima mordida, pela próxima sílaba, pela próxima apetência da garganta. Polifônico, em muitos sentidos, o autor já nasce com a vontade de uma voz própria.