Crônica: De galochas, por Duda Junqueira

Menininha esbaforida, não trema. Seus para-raios sucumbem na multidão. Se bem que essa chuva está mesmo um desalento no coração dos náufragos. Imagine só a tortura: ser vencido pela água em todos os seus estados – sobretudo a lágrima. Chorar pra quê se é dar à natureza mais munição pra te afogar? Tudo ao seu tempo, quando sair o sol, a quentura vai ser de matar. Não há conforto térmico tampouco psíquico. E saiu ontem na previsão que pode vir ainda em maio uma tempestade tropical.

Se guarda. É tempo de goteira no vão da escada, de poça no bueiro, de frieira, de irregularidade na tubulação, tempo de cansaço do encanador. Tempo de atestado médico e olho fechado. Não há guarda-chuva que te esconda ou te proteja dessa enchente que te destroça a alma e arrebata o cérebro.

Disfarça o incômodo. Lembre-se que seus ossos estão sempre molhados dentro do seu corpo, de qualquer maneira. Na pior, pode sempre discar um número embaixo do toldo e dizer “Mãe, vem me buscar. A chuva apertou.”

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