
Meu pai era botafoguense. Pequeninho, ganhei camisa do Botafogo e meu pai me levou ao Maracanã. Pequeninho, me perguntavam qual era o meu time e eu respondia: Vasco! Meus avós maternos, que moravam conosco e eram portugueses, morriam de vergonha e se preocupavam que meu pai achasse que isso era obra deles. Não era.
A casa da Ilha do Governador já era uma realidade. Ainda na fase de acabamento, mas nos mudamos para lá assim mesmo, na rua do campo da Portuguesa. Na época, uma rua ainda vazia, com vários terrenos baldios e poucas casas. Prédios, só o conjunto dos bancários ao longe. Um outdoor dos pirulitos Zorro quase na nossa porta e, no fim da rua, imponente (pelo menos aos olhos de uma criança de 5 anos), o estádio Luso-Brasileiro. Nada acontecia na rua, por isso os dias de jogos eram diferentes. Movimento. Gente, ambulantes, torcedores a pé, torcedores de ônibus – aqueles ônibus charuto da Mercedes – barulho, risadas, cantoria. Naqueles dias, ir a jogo de futebol era só diversão.
Eu ficava vidrado na agitação, sempre com minha avó a meu lado. Sentado no muro baixo, ela atenta a qualquer movimento mais brusco meu. Foi em um domingo desses, dia de jogo do Vasco lá, eu no muro, passa um vendedor de bandeiras. Fiquei indócil! Pentelhei o juízo da minha avó para comprar uma para mim.
– Não, você é Botafogo
– Eu sou Vasco!
– Ele é Vasco – me apoiava o vendedor, enquanto colocava uma bandeira na minha mão.
– Ai meu Jesus… – lamentava uma sogra que não queria aborrecer o genro.
E lá foi ela falar com minha mãe. Como toda mãe nessas situações, ela sentenciou:
– Quem resolve é o pai dele.
Seguiu a procissão para falar com meu pai: minha mãe, minha avó, eu e a bandeira. E o vendedor lá no portão esperando.
– Ele quer porque quer a bandeira – apresentou o caso minha mãe.
– Eu falei que ele é Botafogo – se eximiu de culpa minha avó.
– Eu sou Vasco!
Meu pai, no meio do sono da tarde de domingo, não sei se por compreensão ou por preguiça, resolveu o assunto:
– Compra a porra da bandeira!
Fiquei todo feliz. Sentado no muro, balançando a bandeira, recebendo os cumprimentos dos vascaínos que passavam, gritando Vasco! Eu me tornara, oficialmente, um torcedor do Club de Regatas Vasco da Gama. Nunca mais usei a camisa do Botafogo, mas só fui ganhar uma camisa do Vasco em 1974. Só que isso já é outra história.
